sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Uma mulher no lixo




Estava voltando pra casa a pé. Aqui na cidade pequena de interior. 90.000 habitantes. Cidade pequena mas também tem gente rica e gente pobre. Gente que anda de carro importado e gente que cata lixo.
Eu vi uma mulher, aparência de uns 60 anos, talvez tenha 40, entretanto, uma mulher que teve a ajuda do sofrimento e da luta constante para parecer mais velha. Usava um boné preto desbotado, calça jeans rasgada, camiseta de propaganda de político, não senti o cheiro, passei caminhando e não parei. Ela estava revirando uns sacos pretos de lixo entre dois pontos comerciais. Uma concessionária de carros e um outro ponto comercial. Procura papelão, latas de alumínio, garrafas plásticas e por que não algo de comer que estivesse em bom estado. Você fez a imagem dessa mulher sua cabeça? Imagine o seu semblante carregado. Sua postura de mulher sofrida. Sua revolta contra a vida que não lhe deu oportunidade de nascer numa família rica. Imaginou?
Agora jogue isso tudo fora!
Ela cantava. Revirava o lixo e cantava. Não chorava nem resmungava. Ela canta. Ela pega o papelão cantando. Ela joga o lixo na sua carrocinha cantando. Ela sai carregando a carrocinha cantando. Não importa se lhe faltam dentes, ela canta. Não importa se não tem afinação, se não sabe a letra direito, ela canta.
Talvez a dona do lixo, com seu carro importado estivesse atrás do computador vendo as contas do mês e apavorada porque não sobraria aquele dinheiro que pensava para trocar de carro pela segunda vez no ano. Talvez a dona do lixo chore com depressão porque já tenha tudo e nada faz sentido.
A mulher do lixo canta.
E você?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Harry Potter e Pornografia


Magia! Imagine em suas mãos uma varinha mágica. "blagrandumenos" e puf! Você saiu daquele engarrafamento, ou, sua casa não é mais perto de uma rodovia barulhenta (como a minha), ou, aquela torta maravilhosa de chocolate aparece diante de você, ou, o prêmio acumulado da mega-sena cai no seu quarto com comprovante de que você é legalmente o proprietário da bolada. Viajou comigo? Foi bom né? Não, não perguntei se foi cristão, se foi bíblico, perguntei se foi gostoso. Foi ou não? Sabia! Foi sim. Essa é a vida Harry Potter. O transcendente desejado e idealizado à sua disposição. Na hora. Num "mágica de passe" (só pra não ser clichê demais).

Isso existe?
Essa mágica nos faz repudiar a minha realidade. Onde Deus me colocou e me quer sendo benção. Vivo só no ideal. Só no sonho e sou ingrato e lunático. Desrespeito o Deus que me deu o pão de cada dia. Olho para Ele e chamo o pão de vil.

Mulheres lindas, ou homens lindos. O corpo perfeito. Porque não o corpo perfeito e a índole perfeita? Sem estria, sem celulite, sem mau humor, sem "bafo", sem trabalho. Paciente a todo momento, servil, dedicada (o) totalmente a mim. Disponível para mim, disponível pra você. Ideal, perfeita (o).

Isso existe?
Nessa hora, o meu amor pela minha esposa, namorada, noiva se esvai. Olho para Deus e digo: "Veja a qualidade de mulher que o Senhor me deu, o Senhor poderia fazer melhor". Vivo "no sonho e sou ingrato e lunático. Desrespeito o Deus que me deu a esposa. E a ela me deu. Olho para Ele e a chamo de imperfeita.

"Perfeito sou eu"! "Perfeito é o ideal". "Perfeita é a mágica".


terça-feira, 12 de outubro de 2010

Se a Vida está difícil...



Escolha uma música alegre,
Talvez uma letra breve,
Que expresse o que deve,
Que te deixe leve,
Que ao excluído reintegre.

Não precisa ser afinado,
Precisa ser ousado,
Não ficar envergonhado,
Se for bom, não exaltado,
Mas não fique calado,

Cante,
Desafine,
Grite,
Sorria,
Gargalhe,
Deite.

Será como o mar,
Quando você cantar,
Que a garrafa vai levar,
A tristeza enxotar,
E a alegria ondular.

Você sabe o que tem,
Se as coisas não vão bem,
Talvez um só alguém,
Que de você não está aquém,
E pra você olha também.

Escolha uma música alegre,
Não precisa ser afinado,
Cante,
Será como o mar,
Você sabe o que tem.


Se a Vida está difícil...



Escolha uma música alegre,
Talvez uma letra breve,
Que expresse o que deve,
Que te deixe leve,
Que ao excluído reintegre.

Não precisa ser afinado,
Precisa ser ousado,
Não ficar envergonhado,
Se for bom, não exaltado,
Mas não fique calado,

Cante,
Desafine,
Grite,
Sorria,
Gargalhe,
Deite.

Será como o mar,
Quando você cantar,
Que a garrafa vai levar,
A tristeza enxotar,
E a alegria ondular.

Você sabe o que tem,
Se as coisas não vão bem,
Talvez um só alguém,
Que de você não está aquém,
E pra você olha também.

Escolha uma música alegre,
Não precisa ser afinado,
Cante,
Será como o mar,
Você sabe o que tem.


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Rosa!


Fui à floricultura.
Havia orquídeas, copo de leite, angélica, até samambaia.
"Ah manda rosa pra ela".
É! Rosa.
Olhei o lírio, lembrei-me de Cantares 2.2.
"Ah manda rosa pra ela".
De novo me ocorreu a Rosa.
Pensei no "buquê", pensei na Rosa.
Falei pra mim:
"Ah manda Rosa sim".
Mandei a Rosa pra Amanda.
É ela a mulher que manda em meus sentidos.
É ela a Rosa que exala sobre mim.
É ela que me faz ver além dos "campos".
Quando olha para a Rosa,
A beleza da orquídea não me sensibiliza,
A angélica não tem nada de celeste,
A samambaia não me atrai mais,
Eu quero a Rosa,
Preciso dela,
Sua beleza vai além da cor e da fragrância.
É a minha Rosa.
Então, eu e meu coração chegamos a um consenso:
"Ah manda Rosa pra ela".
Eu mandei!
Mas a quero comigo.
Pra sempre.
Eu te amo Rosa minha.


À minha amada-linda-noiva: Amanda Rosa Guimarães.

sábado, 9 de outubro de 2010

Capoeira e Calvino



"Sou envolvido pela capoeira, sou envolvido pelo berimbau, oi ai oi ai". Essa era a canção que puxava um cara de calça branca estilo "boca-de-sino" e um cordão preto com cinto. Ele batia palmas, cantava e os demais repetiam esse refrão. Havia crianças, meninas, mulheres, senhoras e senhores. Tinha um pandeiro, um tambor alto, mais ou menos 1 metro de altura e dois berimbaus. Parei e fiquei olhando. Duas vidas, ou dois filmes - acho que nem filme - dois vídeos de youtube de 1 minuto cada passaram em minha mente. O primeiro me mostrava fora de uma roda de capoeira, vendo aqueles passos esquisitos cheirando a vudú africano e cheio de misticismo do mal. Meu semblante era carregado, cheio de preconceito. Isso é do diabo. Isso é macumba. Ainda bem que o segundo filme não tardou a chegar. Neste outro eu olhava a roda e ouvia lindas melodias. Melodias que embalavam passes que não podiam ser distinguidos; dança ou luta? Neste filme eu via crianças se agachando para desviar da perna grande do professor que era bem mais alto e forte. Via aquela senhora negra tocando pandeiro. Via a beleza das canções que cantavam. Via como o ritmo ditava os passos de quem "jogava". Via pessoas. Gente. Via vida. Via graça. Comum a mim, Comum a eles.